sábado, 19 de fevereiro de 2011

Resposta

Te procuro nos lugares de sempre, porque meu corpo cansou de inventar outros. Tanto faz, não está aqui ou ali porque já não existe. Foi como a doença que alguma vez li e me fez rir, que vem, derruba e em si extingue. Mas fico em transe em ver então a sua sombra me olhar. Sombras tem olhos? Ambos sabemos que a sua sim. Fala comigo sem ouvir-me.

Ando em conversar só nos meus passos, ah! tinha uns meses que não chorava. Rodopia a tontura de teus sintomas, mas tudo é vulto. As proporções de viver não são as mesmas. Penso em perguntar porque hesitou. Quando foi que nos deixamos que não vi? Veio me chamar de Sol mais uma vez, porque a luz não reflete espectros. Perdeu um cado da viagem, mas nem o sinto.

Você de sombra com seus olhos só viu o que te conveio, deixou passar minhas tentativas. Talvez tenha pensado em mim, tenha ponderado umas duas vezes, mas teu passo nunca vacilou e por isso te sinto mágoa. Podia ter decolado logo. Sempre tão sensível, tão você que me impedi de ser eu, tão singelo. E eu altiva, de voz alta, um troglodita. Mãos rudes demais pra manusear uma estrela. Não tenho lugar a teu lado. Espero de pé - que é o que sou -alguém que eu possa levar sem medo de deixar cair. Alguém que me faça esquecer que não valho o papel em que escrevo. Alguém de pés no chão pra me acompanhar, ao invés das asas frágeis que eu nunca tive e que pensei poder roubar.

Enquanto espero, eu admito só bem dentro, bem baixinho: gosto de te ver voar. Desculpa se te segurei tanto tempo dentro do meu céu nublado.



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